O poder da Igreja Católica no mundo feudal
A Igreja Católica teve papel preponderante na formação do feudalismo; além de grande proprietária de terras, estruturou a visão de mundo do homem medieval. Na realidade, foi a instituição que sobreviveu às inúmeras mudanças ocorridas na Europa no século V e, ao promover a evangelização dos bárbaros, concretizou a simbiose entre o mundo romano e o bárbaro.
Tal fato a tornou herdeira da cultura clássica, pois no universo medieval a Igreja Católica monopolizava o conhecimento. Sem dúvida alguma sua estrutura fortemente hierarquizada colaborou para que ultrapassasse todas as crises, concentrando o saber e o poder. Internamente havia uma divisão entre o alto clero, membros da nobreza que exerciam cargos de direção, e o baixo clero, composto por pessoas originárias dos seguimentos mais pobres da população. O comando de toda essa estrutura lentamente concentrou-se nas mãos do bispo de Roma, que se tornou papa no século V.
Para cumprir a missão de evangelização dos reinos bárbaros entre os séculos V e VII, parte do clero passou a conviver com os fieis, constituindo o clero secular, isto é, aquele que vive no mundo. Entretanto, com o tempo, parte dos religiosos se vinculou aos aspectos temporais e materiais do mundo medieval, ou seja, aos hábitos, interesses, relações, valores e costumes dos homens comuns, afastando-se das origens doutrinárias e religiosas.
Paralelamente ao clero secular surgiu o clero regular, formado por monges que serviam a Deus vivendo afastados do mundo material, recolhidos em mosteiros. São Bento organizou a primeira ordem monástica no ocidente, a ordem dos beneditinos, baseado na regra orar e trabalhar, que significa viver, na prática, em estado de obediência, pobreza e castidade. Na verdade, os mosteiros acabaram se tornando o centro da vida cultural e intelectual da Idade Média e também cumpriram funções econômicas e políticas importantes.
Entre os séculos XI e XIII a Igreja viveu diversas crises e mudanças. Contra a concentração de poderes materiais da Igreja surgiram, por exemplo, vários movimentos que questionavam alguns dogmas cristãos e por isso eram considerados heréticos. Os cátaros, valdenses, patarinos, entre outros, condenavam a riqueza da Igreja e não se submetiam à autoridade do papa. Os hereges foram combatidos com extrema violência pela Igreja Católica, principalmente após a organização do Tribunal do Santo Ofício, no século XII, o julgamento chamava-se Inquisição do Santo Oficio. Dessa crise surgiu uma reforma na Igreja Católica, promovida pelo papa Gregório IX, no século XI. Entre os pontos fundamentais estava a questão de que os senhores feudais não poderiam mais nomear os bispos de sua região, o fim do comércio de bens religiosos, a imposição do celibato clerical e os movimentos das cruzadas.
Na própria Igreja também existiam movimentos contrários ao seu envolvimento nas questões materiais e ao uso da violência contra os hereges. Eram os franciscanos e dominicanos, que pregavam voto de pobreza e por isso eram conhecidos como ordens mendicantes, que se misturavam ao povo, procurando demonstrar a vida pobre e sacrificada do cristão. No entanto, eles foram incapazes de realizar a moralização definitiva da Igreja. Pode-se considerar que toda movimentação contra as interferências da Igreja Católica no mundo material, iniciada na Idade Média, acabaram originando a grande divisão dos católicos no século XVI, com a Reforma Protestante.
Por Lilian Aguiar
Graduada em História
Equipe Brasil Escola